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Dave Filoni é uma nova, nova esperança?

“Isso vai começar a acertar as coisas”.

 

A primeira linha de diálogo de O Despertar da Força, sétimo filme de Star Wars e primeiro sob o comando da Disney, é emblemática. Proferida pelo personagem de Max Von Sidow, quando entrega o mapa contendo a localização de Luke Skywalker a Poe Dameron, a frase procurou acalmar as expectativas dos fãs e assegurar que a saga seria reconduzida ao caminho “certo”, trazendo de volta o clima familiar da trilogia clássica, com seus efeitos práticos, cenários reais e até a iconografia tradicional dos Stormtroopers e suas naves imperiais contra os desavantajados rebeldes. 

Star Wars, afinal, havia enfrentado mais de quinze anos de uma recepção dividida, após a trilogia prequel reconfigurar muitos dos elementos que haviam garantido o sucesso dos filmes originais — para o bem e para o mal. Se, por um lado, George Lucas expandiu a saga de forma criativa, se concentrando numa construção de universo rica e capaz de render ótimas histórias paralelas (como vimos em vários episódios de Clone Wars), por outro, sua direção burocrática, diálogos engessados e notória dificuldade em lidar com atores subtraiu parte da força que o arco dramático de Anakin Skywalker poderia ter — analisando àquela época, pelo menos. 

Isso não impediu esses filmes de encontrarem seu público, mas durante um bom tempo se imaginou como seria revisitar os carismáticos personagens originais (Luke, Leia, Han e Lando) em novas aventuras que unissem o frescor de cineastas jovens com os elementos de filmagem tradicionais mencionados acima. O início do Episódio 7 pareceu reconhecer essa necessidade e prometer uma mudança necessária, preparando o terreno para uma nova fase de produções bem conduzidas e capazes de unir a modernidade com a essência da franquia. 

Foi uma ilusão gostosa. Hoje, após tantos projetos engavetados, filmes controversos e produções irregulares, se percebe a grande encruzilhada na qual a saga se encontra. Colocando de lado opiniões pessoais diversas sobre cada obra da era Disney, é nítido que não houve um comando geral — uma Ordem 66, digamos assim — que unificasse as histórias contadas e construísse, de ano em ano, uma narrativa coesa que fluísse em ritmo crescente até culminar num clímax emocionante e satisfatório. 

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Na TV, o cenário tem se mostrado igualmente crítico. Após a estreia revigorante de O Mandaloriano, em 2019, a necessidade de munição para a Guerra dos Streamings fez surgir séries apressadas e mal-acabadas que foram, sorrateiramente, minando o entusiasmo pelo formato até então inédito de Star Wars em live-action na televisão… mesmo que, aqui e ali, tenhamos recebido pérolas inesperadas, como Andor, Visions ou Histórias dos Jedi.

É nesse contexto que Dave Filoni assume a Direção Criativa da Lucasfilm. Desde o final dos anos 2000, quando se tornou uma espécie de Padawan de George Lucas, Filoni vem utilizando os melhores elementos criados por seu mestre para costurar buracos narrativos da saga, conceber novos e engajantes personagens e sustentar Star Wars durante os momentos mais turbulentos da franquia. Durante os hiatos cinematográficos pré e pós-Disney, suas séries animadas conquistaram novos e antigos fãs, formando um público fidelizado e comprometido a continuar assistindo o que vier pela frente, tamanha a confiança em Filoni e seu amor genuíno pela galáxia muito, muito distante.

Claro que o homem não é perfeito. A proximidade com o mestre Lucas o faz replicar não só os seus acertos, mas alguns de seus erros mais nítidos. Filoni não é exatamente um diretor de personalidade, cujo estilo eleva o material e entrega sequências memoráveis e dinâmicas. Seus diálogos continuam utilizando o modelo pausado e teatral das prequels que costuma frear o ritmo da narrativa, despejando exposições verborrágicas que poderiam ser disfarçadas com mais inventividade. Além disso, é possível que sua postura conservadora quanto ao formato padrão da saga impeça Star Wars de se arriscar, buscando novos horizontes temáticos e estéticos. Seu silêncio sobre Andor — talvez a produção live-action mais diferente do tradicional da franquia — é sintomático disso. Desde o lançamento da série conduzida por Tony Gilroy, quase nada foi dito sobre ela por parte do novo Diretor Criativo da Lucasfilm, o que torna difícil precisar a sua verdadeira opinião sobre algo tão “fora da caixinha” quanto Andor.

Ainda assim, a nomeação de Filoni para esse cargo tão necessário é bastante animadora. Supervisionando projetos, ele ficará encarregado de comandar uma visão geral da franquia, funcionando como uma espécie de Kevin Feige galáctico (o de antes, não a variante que parece ocupar o trono do MCU no momento). Seu apego verdadeiro pela essência de Star Wars deve reparar a gestão criativa desconjuntada de Kathleen Kennedy — uma produtora excepcional que nunca foi lá muito fã dessa nerdice criada pelo George — sem que, para isso, ele precise estar na linha de frente. Na verdade, como Diretor Criativo, ele estará se equilibrando perfeitamente entre os dois extremos da indústria: a frieza da presidência corporativa e o calor potencialmente perigoso da direção. 

Com tudo isso em mente, irei contradizer o caro Max Von Sidow e dizer que, agora sim, “isso vai começar a acertar as coisas”. Que a Força esteja com Dave Filoni.

 

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