Falar sobre Star Wars é sempre uma grande dádiva. Mas acompanhada sempre de um desafio ainda maior. Principalmente quando falamos sobre o futuro da franquia.
Criada por George Lucas, Star Wars revolucionou os cinemas mundiais, dando um novo significado ao, até então, recente termo blockbuster. A franquia transcendeu o tempo e o espaço, tornando-se uma obra imortal.
Mas vendo o sucesso global da saga, uma dúvida surge: como Star Wars conquistou o universo?
Certamente, essa é uma das perguntas mais pertinentes já feitas pelos fãs da saga, espalhados pelo mundo. E agora, nós da Central Tatooine exploraremos os pontos-chave que definem Star Wars como um dos grandes pilares da nona arte e obra imortal na mente fervorosa dos fãs.
O Que Faz Star Wars “ser” Star Wars?
A essência de um ser, ou de algo, é sempre debatida em demasia por grandes filósofos, sejam eles contemporâneos, modernos ou clássicos. Afinal, conhecer com exatidão aquilo que nos torna “únicos” faz com que, de certa forma, passemos a viver em uma espécie de bolha, contemplando o micro e sonegando o macro.
Mas, de acordo com Nietzsche, Gilles Deleuze e outros filósofos, a natureza humana é fluida e em constante transformação, tornando-se inexistente o conceito de “identidade fixa”.
Dessa forma, é possível perceber que, o que torna algo verdadeiramente único e especial são as ideias e as perspectivas de terceiros lançados sobre nós. E quando falamos de Star Wars, percebemos o quanto essas perspectivas estão envoltas por sentimentos intensos de um passado há muito distante, mas que se recusa a partir.
Questionado por algumas pessoas sobre o fato de termos perspectivas diferentes de uma obra em específico, o crítico brasileiro PH Santos diz que a perspectiva sobre algo é única. E em suas palavras:
“Não. Nós nunca vemos o mesmo episódio e nós nunca vemos o mesmo filme, e essa é a grande graça do negócio: a música nunca soar igual para todo mundo, porque senão a gente vira um acúmulo de ratos correndo dentro de uma rodinha sem nem saber o porquê.”
Star Wars é a Essência da Sapiência
Se a filosofia nos mostra como a saga Star Wars afeta o imaginário dos fãs e dita sua perspectiva ao longo dos anos, a história pode nos mostrar como, e porque, Star Wars nasceu destinado ao sucesso absoluto.
Em seu livro “Sapiens“, lançado no ano de 2011, Yuval Noah Harari explora, com precisão, a revolução cognitiva e a ascensão do Homo Sapiens. De acordo com o autor, um dos grandes fatores que desencadearam a convivência entre os humanos foi o ato de “fofocar”. Sim! Fofocar.
Harari explica que, desde o alvorecer dos Sapiens, nós sempre fomos seres fascinados por grandes e épicas histórias, composta por personagens marcantes, tramas cativantes e mirabolantes e, é claro, um final satisfatório e bem definido. Não é à toa que muito da sociedade em que vivemos seja pura fantasia. Coisas que só fazem sentido para nós, seres humanos.
Leia também:
- Star Wars: A Entropia Harmônica
- Maul: De Lorde Sith a Senhor do Crime
- O Caminho de Mandalore: Parte I
O Que a “Força” Exige de Ti?
Carl Jung também explora a relação entre os seres humanos e a complexidade de suas narrativas, principalmente no que diz respeito aos símbolos e sua relação com a mente humana.
Para o psicólogo suíço, os símbolos desempenham um papel crucial na vida psicológica, na busca de significado e no processo de individuação, que é o desenvolvimento da personalidade única de cada indivíduo.
Já Joseph Campbell, um renomado mitólogo e escritor, compartilha algumas ideias fundamentais com a psicologia analítica de Carl Jung, especialmente no que diz respeito aos mitos, arquétipos e o papel da jornada pessoal na busca de significado.
Tanto Jung quanto Campbell reconhecem a presença de arquétipos universais e padrões mitológicos que permeiam as culturas ao redor do mundo.
Campbell, em sua obra mais conhecida, “O Herói de Mil Faces“, explora o conceito do “monomito” ou, como é popularmente conhecida, “Jornada do Herói“, sugerindo que existe um padrão subjacente comum a muitos mitos e histórias.
Apesar de não ter trabalhado diretamente com George Lucas, sua obra influenciou na criação dos arquétipos bem definidos de personagens emblemáticos e místicos, tais quais Darth Vader e Luke Skywalker.
Vader, por exemplo, não só bebe da fonte da obra de Campbell como também se baseia em figuras bíblicas, como Lúcifer e Jesus Cristo (desconstruídos em “O Herói de Mil Faces”) para explorar suas muitas facetas messiânicas e, despertar assim, o forte interesse e sentimento de devoção por parte dos fãs.
Estética e Fascínio: Star Wars Como Pilar Histórico da 9ª Arte
Antes de Star Wars, obras magistrais como “Fundação”, de Isaac Asimov e “Duna”, de Frank Hebert, já ditavam as principais tendências da ficção científica. E se vemos Star Wars por uma perspectiva mais fantasiosa, então temos “O Senhor dos Anéis”, de J.R.R. Tolkien e “As Crônicas de Nárnia“, de C.S. Lewis.
Por mais que todas as obras citadas sejam pertencentes à literatura, propriamente dita, muito do imaginário moderno foi moldado pelas mesmas, ditando as novas regras para a produção de mitologias modernas. Tolkien, por exemplo, remodelou a narrativa criando elementos únicos e de uma perspectiva singular.
Criando línguas fictícias, mitologias dentro de fantasias e um mundo quase “orgânico” , o autor e professor sul-africano ditou as tendências que as obras contemporâneas deveriam utilizar para tentar, ao menos, replicar o que já havia sido feito.
Contudo, a fantasia contemporânea e sua estrutura narrativa não foram as únicas coisas a inspirar o universo de Star Wars. Em meio ao lúdico, o realismo se ergue imponente com os conflitos mais marcantes, e sangrentos, do século XX. Também conhecido como a “era dos extremos”.
Enquanto a Guerra do Vietnã acrescenta uma camada extra à narrativa trabalhada na saga, é com o nazismo que a estética de Star Wars ganha sua força. O ambiente estéril, límpido e implacável do Império Galáctico nada mais é do que um eco lúdico ao regime totalitário representado por Adolf Hitler.
Para muitos estudiosos e românticos (artistas e idealistas), a Segunda Guerra Mundial foi a representação fidedigna da luta entre o bem contra o mal. Não à toa, muitas obras cinematográficas, literárias e quadrinísticas utilizam o período histórico como fundo narrativo para suas obras.
O Lado Sombrio da Força Tem Cara de Funko Pop!
Percebamos uma coisa simples: existia cinema antes de Star Wars e assim será em um futuro distante.
Por mais que a narrativa envolvente e o apelo ao nosso subconsciente tenham dado a Star Wars o poder de edificar sua presença em nossas mentes, foi com o merchandising que a saga sobreviveu por todos esses anos.
Bonecos que enfeitam nossas prateleiras e estantes, camisetas que estampam nossos personagens favoritos e até mesmo chaveiros que agrupam os objetos mais importantes das nossas vidas cotidianas, Star Wars está presente até mesmo em nosso mais sublime sonho, nos acomodando nos belos lençóis e fronhas que ilustram figuras marcantes da saga.
Abraçando a cultura popular como um meio de tornar universal o consumo desenfreado de certos produtos, a cultura nerd, ou geek, tem se mostrado um grande estudo de caso para as empresas nos dias atuais.
O motivo para toda essa atenção se dá a um simples fato: apesar de específica, a comunidade nerd é bastante “barulhenta“, e desse barulho, florescem as tendências mercadológicas. E George Lucas sabia muito bem disso.
Desenvolvendo produtos personalizados, e que estampavam alguns dos personagens ou momentos mais ilustres da saga, a Lucasfilm consolidou seu império mercadológico com a necessidade cada vez mais crescente de consumo por parte dos fãs, que amontoavam-se em fileiras, cada vez mais longas, nas lojas de brinquedos ou de artigos nerds em geral.
Dessa forma, Star Wars não só mudou para sempre a indústria cinematográfica, como mudou para sempre a experiência de consumo mundial. Tornando-a mais imersiva e necessária. Principalmente quando olhamos para os muitos materiais complementares do novo Universo Expandido da franquia.