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As “cópias” de Star Wars no cinema

Ataque dos Clones?

Rebel Moon – Parte 1: A Menina do Fogo chegou recentemente à Netflix, sendo amplamente alardeado por Zack Snyder, seu diretor, como o filme de Star Wars que ele queria fazer, mas que foi prontamente rejeitado pela Lucasfilm. Se a história procede ou não (já que isso nunca foi confirmado pelo estúdio em si), Rebel Moon reacende a discussão sobre obras que se inspiraram, parodiaram ou até copiaram a saga de George Lucas, emulando várias das suas características principais — seja na estética, na temática ou até na estrutura do roteiro.

Claro que, dentre os vários filmes que surgiram na esteira do impacto cultural de Star Wars, existem exemplos bons e ruins de como referenciar esta franquia que tanto amamos, e uma observação atenta pode ser capaz de revelar qual é a diferença principal entre essas duas categorias. Façamos isso, então.

Cópias estéticas

A princípio, o sucesso de Guerra das Estrelas (para os nostálgicos) pavimentou o caminho para um punhado de produções espaciais que se aproveitaram, num primeiro momento, principalmente da reformulação estética de fantasia sci-fi que veio com esse filme. Assim, as antigas e lentas naves se tornaram caças menores e ágeis, o design limpinho e iluminado deu lugar a um visual velho e usado que parecia muito mais autêntico, e o protagonismo saiu das mãos dos experientes capitães para se encontrar nos jovens sonhadores predestinados ao heroísmo.

O Último Guerreiro das Estrelas

É o caso de O Último Guerreiro das Estrelas (1984), onde um adolescente frustrado por sentir que sua vida não vai a lugar algum é cooptado por um alienígena para lutar numa guerra intergaláctica, ou então Mercenários das Galáxias (1980), que retrata um planeta rural que é ameaçado por um império dominador, fazendo com que um garoto fazendeiro recrute diferentes tipos de guerreiros para defender seu lar dos tirânicos invasores.

Nesse sentido, Zack Snyder e seu Rebel Moon proclamam se inspirar em Star Wars, mas parecem puxar bem mais de Mercenários das Galáxias, numa trama episódica que simplesmente repete, um por um, os encontros desconexos com personagens visualmente estimulantes… e só.

Os Mercenários da Galáxia

Aqui vale uma reflexão: Star Wars também surgiu como uma coleção de elementos costurados das referências prévias de Lucas. Do cinema mudo aos seriados de aventura da TV, passando por diversas correntes filosóficas orientais e, claro, a jornada do herói de mil faces, de Joseph Campbell — tudo isso já existia antes e foi repaginado, com um inquestionável toque inédito, por George Lucas em sua criação.

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A diferença, no entanto, acontece quando filmes subsequentes imitam, diretamente, o resultado do processo criativo de Star Wars, ao invés de se inspirarem no processo criativo em si. Snyder, por exemplo, não se preocupa em pesquisar armas antigas e transformá-las, com imaginação e apuro visual, em algo surpreendente e inovador. Ele quer, simplesmente, um sabre de luz alternativo. Da mesma forma, seu império maligno é representado quase literalmente como nazistas espaciais, numa concepção preguiçosa que ignora a chance de procurar outras inspirações históricas menos convencionais para seus vilões.

Rebel Moon

Agora, mencionei que existem também bons exemplos dessa inspiração estética de Star Wars. Inimigo Meu (1985) abandona, logo nos primeiros minutos, a cópia descarada dos combates de naves estilo X-Wing para investir numa trama mais contemplativa que explora, através da necessidade de sobrevivência, as semelhanças entre diferentes lados de um conflito. Mesmo que a sua apresentação visual remeta à de Star Wars, a história trilha um caminho próprio que justifica sua existência por si mesma — e que puxa mais de Star Trek, vale dizer.

Por outro lado, Guardiões da Galáxia (2014) pega o conceito de um grupo de aventureiros espaciais atravessando diferentes planetas em sua nave surrada e executa essa ideia trocando o estilo narrativo clássico de Star Wars (a trilha sonora orquestrada, a montagem tradicional e o tom solene que é temperado por um tipo de comédia mais ingênua) por uma pegada autoral muito mais livre e revolucionária (a música pop, os cortes irreverentes, o humor pastelão) que resulta numa reformulação suficientemente autêntica dos fundamentos audiovisuais de Star Wars, mesmo que a irreverência de James Gunn aproxime o material da paródia.

SOS – Tem um Louco Solto no Espaço

Falando em paródia, um dos melhores filmes que se apropria dessa cópia escrachada, revertendo-a ao humor assumido é o clássico S.O.S. – Tem um Louco Solto no Espaço (1987), que conta com a genialidade de Mel Brooks, na direção e de Rick Moranis, como Lorde Dark Helmet — numa obra que sacaneia deliciosamente a imagem de Star Wars, do melhor jeito possível.

Cópias narrativas

Ok, falamos da estética. Mas existem várias outras obras que reciclam a síntese narrativa que George Lucas alcançou ao estudar a jornada do herói, e essa é uma repetição até mais frequente, já que o ineditismo visual de Star Wars rapidamente deixou de ser um diferencial a ser imitado, restando aos filmes derivados replicar a estrutura do roteiro de Guerra nas Estrelas — que, digo novamente — já ecoava em mitos e lendas pertencentes a um passado bem distante da humanidade.

Nesse caso, é possível encontrar exemplos que deixaram de lado a própria ambientação espacial, mas cuja trama é inegavelmente inspirada em Star Wars. Destes, considero Eragon (2006) um dos piores. Ali, vemos o pacote completo: um jovem loiro que recebe o chamado à aventura, um mentor experiente que (SPOILERS) se sacrifica pelo herói, um aliado meio debochado a-la Han Solo, um império maligno conquistador e por aí em diante.

Eragon

Mas, no lado bom da Força, uma das obras que mais se inspiram na história de Star Wars, evocando, inclusive, momentos específicos da trilogia clássica, é a série animada Avatar – O Último Mestre do Ar, da Nickelodeon — e permitam-me puxar a discussão para a TV também, já que a influência de Star Wars não é limitada apenas ao cinema.

Ali, vemos a Nação do Fogo (o Império) que oprime o mundo (a galáxia) com tropas uniformizadas (stormtroopers), numa ofensiva militar totalitária que busca assegurar a dominação completa do Senhor do Fogo Ozai (Palpatine). Para detê-lo, um jovem membro de uma antiga ordem há muito extinta, chamado Aang (Luke), precisa treinar com antigos mestres para desenvolver suas habilidades e salvar o mundo.

A referência vai muito além da premissa, no entanto. No final da segunda temporada, Aang tem uma visão de seus amigos em apuros e abandona um importante treinamento para salvá-los, assim como Luke, em Dagobah, deixa o Mestre Yoda para resgatar Han e Leia em Bespin. Outros exemplos existem, mas poderiam conter spoilers prematuros, e como Avatar está prestes a ganhar uma versão live-action, pela Netflix, que será capaz de alcançar um público muito maior, paro por aqui e deixo a dica: assistam a esta que é uma das melhores histórias de fantasia já contadas na animação ocidental.

Avatar – O Último Mestre do Ar

O que torna Avatar um projeto bem-sucedido enquanto obra inspirada em Star Wars é que, de longe, o elemento mais importante que os criadores Bryan Konietzko e Michael Dante DiMartino puxam da saga espacial de George Lucas é a noção fundamental de que, acima da influência estética e da estrutura narrativa, o que realmente importa é o foco autêntico nos personagens e seus arcos. A maior parte dos filmes que só tentaram surfar na “onda Guerra nas Estrelas” deixaram de lado esse detalhe crucial. Suas histórias são embalagens chamativas e derivativas que tentam esconder um interior vazio, por mais que haja divertimento em assistir cópias baratas de algo tão melhor, só pela curiosidade em si.

No fim do dia, lembramos de Luke, Leia, Han, Vader e Obi-Wan porque eles são o espírito de Star Wars, assim como, em Avatar, lembramos de Aang, Katara, Sokka, Zuko e Toph. Em Guardiões, de Rocket e Groot… e daí em diante. As melhores “cópias” de Star Wars até emulam elementos específicos da saga, mas se tornam marcantes porque copiam a única coisa que não se pode copiar sem esforço genuíno — a vontade de criar um universo vivo e povoado por pessoas reais e cativantes.

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